Artigo: Bolsonarismo Sem Bolsonaro

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Por: Luís Bassoli*

Inelegível por oito anos, a situação de Bolsonaro evoca uma questão interessante: como se comportarão os bolsonaristas sem poder votar no ídolo até 2030?

Por ora, é muito arriscado fazer um prognóstico, em vista dos paradoxos estabelecidos e das variáveis que estão por vir.

Vamos tentar resumir:

  1. Pesquisa do Instituto Quaest, divulgada dias após a decisão do TSE, é minuciosa, científica, pormenorizada, das mais completas – e complexas – dos últimos anos. Mostrou 37% de avaliação positiva do governo Lula contra 27% de negativa. Mas traz dados difíceis de se compreender, muitos paradoxais, o que reflete a complexidade do “pensamento” do eleitor brasileiro.

De concreto, aponta uma solidez dos seguidores do bolsonarismo, em torno de 25% dos entrevistados.

  1. A aprovação da Reforma Tributária, na Câmara dos Deputados, com uma avassaladora margem favorável ao governo Lula, apesar da incisiva atuação contrária do ex-presidente Bolsonaro, é sinal da perda de prestígio do líder da extrema-direita entre os políticos.
  2. Não restou praticamente nenhum quadro político de “peso” no apoio ao ex-presidente, agravado pelo enfrentamento com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que resistiu à pressão bolsonarista e acabou por se juntar ao governo Lula na aprovação da Reforma Tributária.
  3. O destino de Sérgio Moro, um expoente do espólio bolsonarista, não é nada promissor. Novas revelações, de áudios, de sua nefasta atuação na Lava Jato, o coloca cada vez mais na berlinda, com a possível cassação de seu mandato de senador.

O jornalista e escritor brasileiro Thomas Traumann, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas do RJ, que foi porta-voz da Presidência da República e ministro de Comunicação Social no governo Dilma, tem uma opinião muito interessante.

Para Traumann, o fenômeno do bolsonarismo se solidificou na sociedade brasileira e independe da candidatura do próprio Bolsonaro.

Em suma, o pesquisador sustenta que considerável parcela da população, que pode chegar a 40% do eleitorado, concorda, conscientemente, com as teses do bolsonarismo, ou seja, aprova as ideias racistas, misóginas e preconceituosas propagadas pelo ex-presidente, se “agarrando” nos temas morais e comportamentais difusos, como “defesa da família tradicional”, nacionalismo, religião, sexualidade etc.

Traumann faz uma perspicaz analogia com o futebol: o corintiano ou o sãopaulino não deixará de torcer pelo seu time mesmo que passe décadas sem vencer um campeonato; o palmeirense ou o santista tampouco deixará de comemorar uma vitória mesmo que tenha sido por favorecimento da arbitragem.

Do mesmo modo, a maioria dos bolsonaristas não deixaria de apoiar seu líder apesar da comprovação dos crimes que praticou e do desastre de sua administração. Cita, como exemplo, o escândalo das jóias árabes roubadas e a negativa do então presidente de adquirir vacinas da covid-19, que causou a morte, evitável, de cerca de 400 mil pessoas – nada disso abalou o fanatismo dos bolsonaristas.

Conclui que o sentimento “antipetista” dessa parte da população supera toda e qualquer atitude ilícita e imoral do ex-presidente Bolsonaro, até mesmo se ele for condenado e preso.

Por fim, o único prognóstico que se pode arriscar é que as eleições gerais de 2026 deverão ser, novamente, polarizadas, entre Lula (ou quem ele apoiar) e o candidato apoiado pelo inelegível Bolsonaro.

(Com: Pesquisa Quaest, Podcast do Conde, TV 247 e agências)

* Luís Bassoli é advogado e ex-presidente da Câmara Municipal de Taquaritinga (SP).

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

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